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Foto do escritorDra Ana Carolina Riedel

Mas afinal, o que são próteses auditivas ancoradas no osso?

Atualizado: 29 de abr. de 2022

Próteses auditivas de ancoramento ósseo ou ancoradas no osso - já ouviu falar sobre elas? Sabia que existem "aparelhos auditivos" que podem ser implantados com cirurgia? Não é somente o implante coclear que pode ser implantado para ajudar sua audição... Falo a seguir sobre este tema.



Para entender o funcionamento dessas próteses, precisamos falar um pouco sobre fisiologia da audição


O som que chega nas nossas orelhas é conduzido através do canal auditivo externo e vibra o tímpano que, por sua vez, passa a vibração sonora para os ossículos do ouvido (martelo, bigorna e estribo). Essa vibração movimenta a janela oval (onde está apoiada a platina do estribo) e isso resulta em movimentação do líquido presente dentro da cóclea (o órgão auditivo da orelha interna). A cóclea, por sua vez, tem células ciliadas especializadas em transformar as ondas mecânicas sonoras em impulso elétrico (processo chamado transdução mecano-elétrica), sendo esse impulso elétrico transmitido através do nervo auditivo para o tronco encefálico e cérebro. Todo esse caminho do som descrito (desde o som vindo pelo ar através do canal auditivo e vibrando o tímpano, etc.) até chegar na cóclea, é o que chamamos de via aérea da audição. Outra forma de o som chegar na cóclea é se a vibração sonora for transmitida diretamente pelo osso da calota craniana ou da mastóide para a cóclea - o que chamamos de via óssea da audição. As próteses auditivas de ancoramento ósseo utilizam a via óssea da audição para conduzir o som para a cóclea.


Existem mais de um tipo destas próteses


As próteses auditivas de ancoramento ósseo podem ser divididas em transcutâneas ou percutâneas. As transcutâneas são aquelas em que a pele fica íntegra e seu processador de som (que fica externo ao couro cabeludo) é conectado ao componente interno (que está em contato com o osso e foi cirurgicamente implantado) através de um ímã. As percutâneas são aquelas em que a conexão dos dois componentes é realizada de forma mecânica, encaixando diretamente o componente implantado (pilar) ao processador de som; logo, fica um pino externo visível quando removemos o processador sonoro.

Outra forma de classificarmos esse tipo de prótese é se elas são ativas ou passivas - sendo que essa classificação se refere ao componente interno. As próteses passivas são aquelas cujo componente vibratório é o processador sonoro. Nas ativas, o componente que vibra é o interno, implantado no osso. A seguir, falo sobre as marcas disponíveis atualmente no Brasil e uso essa classificação para exemplificar.



Sistema BAHA (Cochlear) O sistema BAHA possui 2 modelos, sendo eles o BAHA Connect e o BAHA Attract. O BAHA Connect é uma prótese percutânea passiva - com pino externo e seu processador de som é que capta o som e vibra, transmitindo para o pilar quando conectado. O BAHA Attract é uma prótese transcutânea passiva - a pele fica íntegra, e há um ímã na parte interna que se acopla ao ímã do processador sonoro, sendo o processador que capta o som e vibra, transmitindo essa vibração através do ímã para o componente interno.



Sistema BAHA connect - sem processador acoplado


Sistema Ponto (Oticon)


O sistema Ponto é uma prótese percutânea passiva - com pino externo e seu processador de som que capta o som e vibra, transmitindo para o pilar quando conectado.



Sistema Ponto - com processador acoplado


Sistema Bonebridge (MedEl)


O sistema Bonebridge é uma prótese transcutânea ativa. Significa que o componente interno desta prótese fica totalmente embaixo da pele, com a pele íntegra após cicatrização, e seu processador sonoro (Samba) é acoplado ao componente interno através de um ímã presente em ambos. Porém, diferente do sistema BAHA Attract, o componente interno é que produz vibração sonora.


Processador Samba Med El



Sistema Osia (Cochlear)


O sistema Osia também é uma prótese transcutânea ativa. Assim como a prótese anteriormente descrita, é um sistema em que a pele é íntegra (após cicatrização da cirurgia de implante) e seu processador sonoro se acopla ao componente interno através de ímã. Também é o componente interno que produz a vibração sonora que será transmitida pelo osso para a cóclea.



Processador do sistema Osia


E quais pessoas podem se beneficiar de uma cirurgia para implantação de alguma destas próteses?


A indicação mais clássica para esse tipo de prótese auditiva é para os pacientes com malformação de orelha externa (pavilhão auditivo e conduto auditivo externo), que impossibilite o uso de aparelho auditivo convencional. Em casos de pacientes com otite crônica ou colesteatoma, também é uma possibilidade para reabilitação auditiva. Além desses, os casos em que há infecção recorrente no conduto auditivo externo, que impossibilite o uso de aparelho auditivo convencional, podem se beneficiar desse tipo de prótese. Outra importante indicação é para os casos de surdez unilateral (um lado com audição normal e outro ausente). Nesses casos, é possível coletar o som do ambiente produzido do lado em que o paciente tem surdez e transmitir o som para a cóclea do lado ouvinte, utilizando a via óssea da audição.


A cirurgia é complexa? Quais os riscos envolvidos?


É um procedimento cirúrgico, deve ser realizado em ambiente estéril, idealmente em centro cirúrgico. Pode-se optar pela anestesia geral ou anestesia local. Essa escolha é feita dependendo do modelo de prótese escolhida e preferência do cirurgião, em conjunto com o paciente. Como a cirurgia realizada envolve apenas o osso da calota craniana, não se corre o risco de piorar a audição que o paciente já apresenta. Os maiores riscos envolvidos são de infecção da pele no local (geralmente mais comum nos casos de próteses percutâneas) e sangramento local, com eventual hematoma.


E já saio da cirurgia ouvindo normalmente?


Todas essas próteses são ativadas apenas quando conectadas ao processador de som. Para tal ativação, é necessário aguardar a cicatrização da pele e, em alguns casos, a osteointegração do implante (integração do aparelho implantado ao osso do crânio). Esse processo demora ao menos 1 mês (para os casos em que é necessária apenas a cicatrização da pele e subcutâneo), até 3 meses (para casos em que é necessário que ocorra osteointegração). Como dependem da resposta do organismo do paciente implantado, esse tempo de cicatrização ou osteointegração pode variar ainda de pessoa para pessoa.


É importante ressaltar que, apesar do mecanismo de funcionamento dessas próteses ser, em sua base, o mesmo, a potência de amplificação sonora é diferente entre elas. Para isso, um otorrinolaringologista especializado em otologia, juntamente com um profissional fonoaudiólogo especializado em audiologia, devem ser consultados para avaliar qual a melhor prótese indicada em cada caso específico.

Gostou desse conteúdo? Curta e compartilhe. Texto escrito por Dra. Ana Carolina Riedel, CRM-SP 156577, RQE 63840, Otorrinolaringologista com especialização em Implante Coclear e Próteses Auditivas Implantáveis.

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